quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Senhor Primeiro Ministro II

Já dorme? Não adormeça Senhor Primeiro Ministro. A chegar à parte animada da história e adormece? Aguente lá mais um bocadinho e vai ver que fica a perceber como aqui chegámos. E logo nós, os que viemos de tão longe. Acorde lá o seu iPad.

Foi bonita a festa. Com cheiro de cravos, correu-se com empoeirados e bafientos e ainda se lançou uma bela discussão: então e agora? Improvisou-se um pouco sensato conselho da revolução e até se fizeram eleições. Isso sim foi uma novidade! Votávamos e volta não volta lá vinha um surpresa.

Foi giro, mas nem por isso andámos para a frente. E o pior estava para vir. Sim, Senhor Primeiro Ministro, aquele rapaz do poster que tem no quarto tornou-nos ainda mais saloios. Camiões de dinheiro vindo dos nossos então amigos europeus e uma nulidade absoluta de ideias inteligentes. Sabe, os anos em que o seu mentor mandou cá na terra foram uma chatice.

Mas olhe que nós por cá sempre nos fomos orientando. Melhor ou pior, tivemos por cá gente de gabarito. Olhe, Senhor Primeiro Ministro, sejam os Picasso ou os Hemingway, os nossos Vieira da Silva e Eça não se batem mal com ninguém. Ironias? Tivemos o Camilo. E para fechar oferecemos o nosso Saramago. Sabe, Senhor Primeiro Ministro, que foi o saloio do seu mentor que o empurrou para os vizinhos?

Seguiram-se uns governos orientados, uns desorientados e outros que até chegaram a ser divertidos. Não me diga que se esqueceu de ver o seu colega Paulo na tomada de posse? Quer que lhe conte a história dos submarinos? Ou que lhe lembre o seu antecessor, o Pedro, à procura das folhas do discurso? Momentos brilhantes. Quer ouvir um? Ora pegue lá nisso e escreva no You Tube: Ornatos Ouvi dizer.



Sabe senhor Primeiro Ministro, chegámos ao fundo do poço. Se já ganhávamos mal, agora será ainda pior. Dizem-nos que temos demasiado direitos e que vamos ter de trabalhar mais. Menos feriados, menos dias de férias e até os subsídios se foram. Digo-lhe que não percebo. Se os vejo, aos seus colegas, a dar dinheiro aos bancos, se os vejo de Porsche e na Quinta da Marinha porque raio nós temos de levar com um aumento no bilhete do autocarro. Até sei que o Senhor Primeiro Ministro mora em Massamá. O que lhe dizem os vizinhos? O senhor do café ainda lhe traz a bica curta?

Ouvi-o dizer aos mais novos para emigrar. Eu percebo-o, descanse. Nunca tinha tido um emprego e de repente dá por si aos comandos de um barco demasiado grande para as suas delicadas mãos. Está assustado, é normal. Não vê saída e, como até tem bom coração, deixou que o desabafo lhe saísse pela boca. Não é grave. Podia ser pior. Imagine que era o sôr Relvas a mandar nisto? Vendiam-se já os jovens aos chineses.

Mas sabe, senhor Primeiro Ministro, tenho para mim que os putos não se vão embora. Mais facilmente os vejo partir uma ou duas montras, que a largar o barco. Mesmo com um capitão desgovernado, gostam disto por cá e, se forem dos meus, até acham que a terra é boa.

Veja lá senhor Primeiro Ministro se ouve o que lhe digo. Não faça as vontades todas à Senhora alemã, acredite que a única coisa decente no Senhor Sarkozy é a sua senhora e não se esqueça que temos, pelo menos, direito a fazer a barulho. Faça como os nossos sempre fizeram. Esgravate, faça barulho, bata com o pé no chão ou parta qualquer coisa. Pode ser que assim o oiçam, pode ser que assim os mais novos, os que não vão emigrar, não tenham de fazer o mesmo.

Não chore Senhor Primeiro Ministro. Faltam meia dúzia de meses para lhe darem a desculpa para sair de cena. Nessa altura, não escolha Paris como refúgio que já não é novidade. Nessa altura, os mais novos estarão por cá, comigo a tomar conta deles, para continuar a suportar a ondulação.

Como acaba? Não sei, mas será uma história com moral. Para já, Senhor Primeiro Ministro, pode ir andando. Lave os dentes, vista o pijama, trate de se aliviar e vá dormir. Não se esqueça: "Meninos que brincam com o fogo, fazem chichi na cama".



Enjoy

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