segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Fora

Era o Fora. Um daqueles tristes casos em que a alcunha de infância se pega aos ossos. O Manuel que nunca foi Manuel, o Pedro que nunca foi Pedro ou o Carlos que nunca passou de Fora.

Vivia convencido que as pessoas eram mais que os seus corpos. Karma? Alma? Espírito? Ainda não tinha decidido o que lhe chamar. Faltava-lhe a palavra, mas vivia convencido que o Manuel, o Pedro ou o Carlos tinham algo ... fora. E se os ossos já começavam a mostrar os quilómetros, lá fora, as marcavas também se faziam notar. O Fora, vivia convencido que infâncias felizes, adolescências traumáticas, casamentos ou mesmo fins de tarde perfeitos, tinham o seu cunho.

Estranho o Fora. Gostava do seu copo com amigos, da sua manhã de praia e conhecia todos os segredos da sobrevivência feliz em jantaradas. E sempre, sempre, convicto que importante era a parte de fora. A melhor definição que conhecia? Coração. Elogios à beleza, à sagacidade, ao sentido de humor ou a um qualquer talento atlético, tornavam-se triviais quando era o Coração a ser gabado. Quem não gosta de ouvir: "Tens um bom coração."

Homem de bom coração, o Fora. Aluado, como alguns lhe chamavam, distraído ou mesmo preguiçoso. O Fora não era conhecido por ser rápido, mas já tinha ouvido mais que um elogio ao Coração. Tinha as suas marcas e as suas vitórias e aparentemente o resultado não tinha, para os que notavam, sido mau. Algo mais importante que um bom coração? O Fora achava que não.



Enjoy

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