segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Cabeça de Wax - Aperto

Em frente ao pontão, entre correntes, e incapaz de remar de volta para a costa, o cabeça de wax acordou num aperto. Para a direita, já passara vinte minutos a remar. Em frente, um pontão a ser brindado com a força da ondulação. Na esquerda, o desconhecido Tejo. Para dificultar, uma irritante corrente a puxar em direcção ao Bugio. Sozinho.

Estava cansado, o Cabeça de Wax. Pernas e braços pesados teimavam em atrapalhar a alma que pedia mais uma. Mais duas ondas. Uma direita perfeita só para sacar a travessa de ameijoas para o dono do Tubo do Dia. E outra, só para voar um bocadinho ... Não conseguiu.

Remar no Tejo, debaixo de olhares jocosos dos locais do pontão e ter de escalar até ao cimento, não foi o mais edificante dos seus momentos, mas serviu para alinhar a perspectiva. Às vezes, na procura dos momentos memoráveis, os que ficam na memória, perde-se demasiado tempo a remar contra a maré. Inevitável?



Enjoy

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Mártires da Pátria

Aparece depois de uma esquadra. Primeiro o jardim e o barulho do empedrado, depois o café, a velha Artur Ravara e mais verde. Segue-se um dos devolutos palacetes alfacinhas, um santuário a cães e a estreita descida para o Hospital dos Capuchos. Depois é só ignorar os sinais de trânsito e voltar para trás.

À direita, um jardim infantil. À esquerda, uma mercearia com cheiro a caril, cafés duvidosos e o parque de estacionamento mais fedorento de Lisboa. Perfeito para parar e descobrir os segredos mágicos do quarteirão. Há patos, árvores, uma esplanada surpreendentemente tranquila e a história de mártires da pátria. Gente que deixou marca, mas que não ficou para ver o final da aventura.

Tenho saudades da magia do Mártires da Pátria.



Enjoy

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Alex

A idade tinha-o tornado céptico. Quando chegava a hora de ouvir música, Alex gostava de ouvir cantar Vida. E o som, instrumental ou cantado, tinha de bater certo com o seu Mundo. Seria possível que um miúdo de 20 anos contasse histórias com sentido? Que um puto com idade para perder horas em maratonas de playstation soubesse algo de útil para a sua vida? Com ou sem razão, certo é que pelo caminho os Doors foram ficando para trás e o Springsteen não parava de ganhar espaço.

Desde novo que descobrira o Beck. Primeiro a Loser, depois o Mellow Gold. Ficou fã. Depois descobriu o Damon Albarn. Primeiro a Song 2 e depois uma variedade de musical absurda. E foi já mais velho que ouviu o Boss e descobriu um puto de vinte e poucos anos. E o dilema resolveu-se.

Ladies and gentleman, Mr Alex Turner.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

All that Jazz

"Arranjas-me um Jazz?" O pedido até tinha sido com jeitinho, quase com vergonha, mas o peso estava lá. Não é pedido que se faça. Rápido ou lento? Com muito ou pouco swing? Sexy ou agressivo? Complexo ou genialmente simples? Saxofone, trompete, bateria ou uma Big Band? Com letra?

Rock seria fácil. Chuck Berry, Led Zeppelin, Guns n' Roses, White Stripes, Black Keys. Com o Hip Hop, ainda mais simples. Run DMC, Public Enemy, Notorious BIG, Eminem, Kanye West. Música pesada? Rage Against The Machine, Pantera, Machine Head... Nada pior que o Jazz. Quando o assunto é apresentar o estranho mundo de Miles a missão é espinhosa. Basta uma sugestão errada e a curiosidade dá lugar ao desinteresse e ninguém devia morrer sem perceber o Jazz.

Desafio naturalmente aceite. Ainda que limitado pelo suporte da coisa - por aqui ainda se ouve música em cd - lá entraram uns monstros sagrados. Os que foram descobertos lá pelos corredores do Camóes. Miles Davis, John Coltrane e Art Blakey, seguramente. Ray Charles, Keith Jarret, Thelonious Monk, também por lá devem ter seguido. O Hendrix vai sempre. E sem Ella a pen não seria devolvida. Só indiscutíveis.

Se adere ou não ao estranho mundo de Miles, não sei. Será que tem tempo para parar e ouvir tanta música? Duvido. Ninguém tem. Despeço-me com um disclaimer: já paguei por discos de todos os citados. E com uma dúvida. Entre sms, whatsapps, youtubes, facebook, toneladas de streamings e downloads para todos os gostos, nos apercebemos de tudo o que ouvimos? Duvido.


Enjoy