sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O "cabeça de wax"

A regra era simples. Em dia de folga, o despertador tocava mais cedo.Vivia, trabalhava e geria toda a agenda a pensar na hora de molhar os pés. Sonhava com drops perfeitos, com picos perfeitos, com lips e com tubos. Muitos tubos. Mais ou menos redondos, mais ou menos agressivos, com ou sem direito junção a seguir, eram os tubos quem lhe fazia companhia nas horas de descanso.


Os amigos, não percebiam. Porquê acordar cedo? Água gelada? Correntes, mar castigador e portagens. Chamavam-lhe "cabeça de wax" e talvez tivessem razão. Gostava de ler, de um bom filme ou de uma simpática conversa entre amigos. É certo que devia ler mais, mas o hábito de adormecer a pensar em ondas limitava as opções de leitura.


E aquela fracção de segundo? Em que o balanço do corpo faz a diferença, em que o rail tem de ir bem cravado, mas sem abrandar. O momento em que, como um amigo lhe dissera, "se separavam os que voam dos que se ficam pela onda". E o "cabeça de wax" gostava de estar entre a elite. Perdia horas a recordar a última tentativa, a corrigir erros imaginários e a armazenar coragem para a hora H.


Diziam-lhe que não pensava em mais nada. Diziam que tinha de crescer. De gostar de ténis e de discutir a direita do Verdasco e os joelhos do Nadal. O "cabeça de wax", que até simpatizava com o sérvio que equipou à Benfica, preferia seguir o mundial de bodyboard. Torcia pelo Hubbard, dificilmente perdia um heat do Guilherme Tâmega e estudava todos os pormenores do Ryan Hardy. O "cabeça de wax" sonhava com o "bodyboarder perfeito". E nem ligava nenhuma às piadinhas de gays que a expressão motivava.


Se a alcunha o irritava? Nada. Provavelmente os amigos até teriam razão. O wax era mesmo o creme que mais usava e as ondas eram o seu vício. Mas no final, quem teria razão? O "cabeça de wax" ou os rapazes das discussões sobre punhos, pegas e cinema duvidoso?




Enjoy