segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Senhor Primeiro Ministro I

Psssst. Senhor Primeiro Ministro, sente-se aqui. Quero-lhe contar uma história. Sim, pode trazer o iPad. Já soube que perdeu um na visita a Angola e não tenho dinheiro para pagar outro. Sabe, parece que falimos. São dois minutos. Conversa breve e conto-lhe a história da nossa terra. Um país antigo, com mais de 800 anos de históra...

Onde vai? Tenha calma senhor Primeiro Ministro. Não tem paciência para histórias demoradas? Tenha calma. Vai ver que não custa e até lhe dou uma musiquinha. Carregue lá nisso. Youtube, procurar e é só escrever - zeca afonso mais cinco.



O Norte da península nem era feio, mas as complicações das partilhas obrigaram a uma caminhada para Sul e o sol até era mais simpático. E os nossos lá decidiram ficar. Está a ouvir senhor Primeiro Ministro? Tenha paciência que isto já anima. Experimente agora isto. Escreva - Gilberto uma nota só.



Vindos do Norte, tiveram de lutar pela terra para assentar na costa e depois brilhar no mar. Não lhe minto Senhor Primeiro Ministro, não sei em que praia foi, mas garanto que no dia em que um dos nossos decidiu ir ver se o mar tinha fim as ondas estavam boas. E olhe que a coisa até correu bem durante uns tempos. Massacre aqui, massacre ali, acordo aqui e negociata ali e lá fomos andando. Mas só até ao dia em que começámos a pedir dinheiro para pagar a frota. Lá por baixo? Correram connosco à porrada. E nessa altura já estava tudo estragado.

Talvez pelo excesso de Sol - já o tinham avisado que faz mal? tenha cuidado na próxima ida a Angola ... -, por azar ou por deformação genética, algures nas últimas centenas de anos perdemos as vistas. Andámos demasiado tempo de Botas quando o Mundo já corria com Nikes nos pés e ainda hoje pagamos por isso. Ora agora, escreva: Filho da Mãe. Sobretudo é preciso que acredite nisto: não lhe minto.



Deixe-se estar sentado e não fique triste. Mesmo embrutecidos, os nossos antepassados, nunca perderam a classe e na hora da revolução armaram-se com Cravos. Meia dúzia de tiros, um morto por engano e um regime derrubado. Sabe Senhor Primeiro, acabou por nem ser assim tão difícil. Aqui ao lado a coisa só se resolveu com uma Guerra Civil e felizmente os nossos nem a um canhão deram ordem para disparar.



Conhecia esta? Ah sim, os seus pais contaram-lhe a histórias do comunas? Pois olhe que os vejo como gente de boas intenções. Se me permite, Senhor Primeiro Ministro, vou-lhe ensinar uma palavra: obtuso. Se é verdade que sempre me pareceram boa gente, também não deixa de ser verdade que sempre me pareceram demasiado ... obtusos. Mas olhe, tenho uma coisa em comum com os moços: também perdi a história. Escreva lá "fado toninho". Onde íamos?



to be continued ...

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