sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O senhor do chapéu

Diziam-lhe que era o ingrediente mágico. Que dava encanto; que era garantia de sucesso, na vida e no amor; até que assegurava a felicidade, mas nunca tinha percebido como a arranjava. Sabia de quem vendesse walkmans, barbatanas de tubarão para sopa e até camisolas do Sporting com o símbolo de campeão nacional. Na sua Lisboa, sabia onde comprar tudo. Da droga mais pesada ao modelo mais raro de ténis, mas nunca lhe tinham dito onde podia comprar classe.

Um senhor de chapéu preto, a quem todos gabavam a classe, contara-lhe uns segredos. Tinha de reciclar as t-shirts de banda desenhada e com enormes logotipos, tirar as calças de dentro das botas e deitar fora o frasco de gel. Tinha de limpar o stock de piadas com rimas e deixar de fazer eco a lugares comuns. Uma tragédia para quem adorava citar autores que não percebia, que tinha orgulho nas t-shirts com bonequinhos e nada o deixava mais orgulhoso que um logotipo da Timberland bem à vista do Mundo. Seria mesmo necessário mudar tanto para conseguir a classe de que o senhor do chapéu lhe falava?

Sem nunca lhe explicar onde a conseguira, o senhor do chapéu dizia que sim. Que nem era preciso chamar à atenção, usar cores berrantes, saltar ou falar muito, dizia-lhe o senhor do chapéu que nem eram precisos logotipos ou decorar dezenas de citações, mas nunca lhe disse onde comprara a classe que o Mundo lhe gabava. Estaria o segredo no chapéu?



Enjoy

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